terça-feira, 5 de janeiro de 2016
AMOR NÃO SELECIONA
Era um casal sem filhos. Os anos se somavam e, por mais tentassem, a
gravidez nunca se consumava. Aderiram a sugestões e buscaram exames
mais sofisticados que lhes apontaram, enfim, a total impossibilidade
de um dia se tornarem pais dos próprios filhos.
Optaram pela adoção e se inscreveram em um programa do município,
ficando à espera.
Certo dia, a notícia chegou inesperada pelo telefone. "temos uma
criança. Vocês são os próximos da lista. Venham vê-la."
Rapidamente se deslocaram para o local. Pelo caminho se perguntavam:
"como será o bebê? Louro? Cabelos castanhos? Miúdo? Olhos negros?
Menino ou menina?"
Tal fora a alegria na recepção da notícia, que se haviam esquecido
de indagar de detalhes.
Vencida a distância, foram recepcionados pela assistente social que
os levou ao berçário e apontou um dos bercinhos.
O que eles puderam ver era uma coisinha miúda embrulhada em um
cobertor.
Mas a servidora pública esclareceu: "trata-se de um menino. É
importante que vocês o desembrulhem e olhem. Não sei o que acontece
pois vários casais o vieram ver e não o levaram.
Se vocês não o quiserem, chamaremos o casal seguinte da lista."
Marido e mulher se olharam, ele segurou a mão dela e falou: "querida,
talvez a criança seja deficiente ou enfermo. Pense, se fosse nosso
filho, se o tivéssemos aguardado nove meses, se ele tivesse sido
gerado em seu ventre, alimentado por nossas energias, o amaríamos,
não importando como fosse. Por isso, se Deus nos colocou em seu
caminho, ele é para nós e o levaremos, certo?"
A emoção tomou conta da jovem. Estreitaram-se num amplexo demorado. É
nosso filho, desde já." Foi a resposta.
A enfermeira lhes trouxe o pequeno embrulho. Era um menino de cor
negra. A desnutrição esculpira naquele corpo frágil uma obra
esquelética, com as miúdas costelas à mostra.
Levaram-no para casa. A primeira mamada foi emocionante. O garotinho
sugou com sofreguidão. Pobre ser! Quanta fome passara. Talvez fosse a
primeira vez que bebesse leite.
No transcorrer das semanas, o casal descobriu que o pequeno era um poço
de enfermidades complicadas. Meses depois, foi a descoberta de uma
deficiência mental.
Na medida em que mais problemas surgiam, mais o amavam.
Já se passaram cinco anos. O garoto, ao influxo do amor, venceu a
desnutrição e as enfermidades.
Carrega a deficiência, mas aprendeu a falar, embora com dificuldade, e
todas as noites quando se recolhe ao leito, enquanto os pais o ensinam
a orar ao Senhor Jesus, em gratidão pelo dia vencido, ele abraça,
espontâneo a um e outro e diz: "mamãe, papai, amo vocês."
Haverá na Terra recompensa maior do que a que se expressa na
espontaneidade de um espírito reconhecido na inocência da infância?
Autor: Não mencionado
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